"Voltem às duas!", grita o diretor teatral Paulo Faria, megafone na mão, da sacada do sobrado onde funciona, há 12 anos, a sede da companhia Pessoal do Faroeste, a 400 metros da cracolândia, no centro paulistano.
Lá embaixo, uma fila que se formava em frente à porta se desfaz sob protestos. A maioria das pessoas, no entanto, simplesmente se muda para a calçada oposta, à espera das cestas básicas que seriam distribuídas dali a meia hora.
A cena tem se repetido desde que Faria se mudou para o casarão, há três semanas. Ele conta que decidiu sair do apartamento onde mora, na avenida São João, para ajudar a população do entorno da cracolândia numa emergência. “Achei que fosse ficar aqui de plantão por causa da polícia, porque antes da pandemia sempre tinha alguma ação”, diz.
Mas, conta o diretor de 54 anos, encontrou outro problema –fome. Ao receber uma doação de alimentos orgânicos e repassar a comida a famílias da região com a ajuda de uma líder comunitária,