RESUMO
A avaliação da mirmecofauna em seringueira, no município de Ibitinga, SP, revelou 76 espécies de formigas. Dentre estas, Zacryptocerus pusillus Klug, Pseudomyrmexjlavidulus F. Smith, Pheidole oxyops Forel, Camponotus sp. 2, Pseudomyrmex gracilis Fabricius, Camponotus sp. 5 e Linepithema sp. 3 foram as mais abundantes. Através de observações visuais constatou-se que P. jlavidulus habita as plantas podendo alcançar grandes alturas. Esta observação foi comprovada através da captura desta espécie em armadilhas luminosas dispostas a 11 metros de altura na seringueira. P. oxyops e Z. pusillus demonstraram associação com a planta hospedeira.
PALAVRAS-CHAVE:
Mirmecofauna; seringueira; associação formigas-plantas.
ABSTRACT
The evaluation of the myrmecofauna in rubber trees in Ibitinga, SP, showed 76 ant species. Zacryptocerus pusillus Klug, Pseudomymrex flavidulus F. Smith, Pheidole oxyops Forel, Camponotus sp. 2, Pseudomyrmex gracilis Fabricius, Camponotus sp. 5 and Linepithema sp. 3 were the most abundant. It was registered, through visual observations, that P. flavidulus inhabits high places on the host trees and these observation were proved by the capture of this ant using light traps fixed 11 meters high on the rubber trees. P. oxyops and Z. pusillus were also observed on the plants, showing clear associatíon.
KEY WORDS:
Myrmecofauna; rubber tree; ant-plant association.
INTRODUÇÃO
A degradação ambiental, o desmatamento e as monoculturas afetam a diversidade e a riqueza de espécies, favorecendo o surgimento de espécies com elevado número de indivíduos e, conseqüentemente, com crescimento acelerado da população que tornam-se, muitas vezes, sérias pragas agrícolas (SAMWAYS, 1982).
A seringueira (Hevea brasiliensis Muell. Arg.), na região Norte e Estados da Bahia, Minas Gerais e São Paulo, apresenta muitos problemas com pragas durante o seu ciclo vegetativo. No mundo, estão registradas cerca de 275 espécies de animais, sendo 218 espécies de insetos, que causam danos a esta cultura proporcionando prejuízos à produção de borracha na ordem de 151.000 tiano (SANTOS et al., 1985).
Além de outros insetos, as espécies da família Formicidae são importantes em várias regiões produtoras da seringueira no Brasil (FAZOLIN, 1991), principalmente as formigas cortadeiras (SEFER, 1961; SILVA, 1972; RODRIGUES et al., 1983; SANTOS et al., 1985). No entanto, algumas espécies de formigas apresentam associação mutualística com determinadas espécies de plantas, protegendo-as de insetos herbívoros, bem como de plantas parasitas (HÕLLDOBLER & WILSON, 1990).
O impacto das diversas espécies de formigas sobre o ambiente terrestre é imenso (HÕLLDOBLER & WILSON, 1990). As formigas predadoras, na maioria dos habitats, são as mais eficientes no combate de outros insetos, das próprias formigas e de pequenos invertebrados (WILSON, 1971). Além disso, as formigas são consideradas como o principal componente da fauna de solo de certas culturas (SAMWAYS, 1983), e como taxon tem obtido grande sucesso na colonização de diversos habitats devido ao seu tamanho, comportamento social e estratégias de forrageamento (WILSON, 1971).
O estudo das relações entre formigas e culturas tropicais propiciou a vários autores sugerirem novas formas de manejo destas culturas (LESTON, 1973; SAMWAY, 1983). Inovadoramente, MAYER (1986) propôs uma metodologia específica para o uso benéfico de formigas como controladoras de pragas, sendo seguido por outros trabalhos (RISCH & CAROLL, 1982; CAMPIOLO & FOWLER, 1997; OLIVEIRA, 1997).
O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo da mirmecofauna existente em cultura de seringueira.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no município de Ibitinga, SP, durante o período de março/89 a maio/ 90, efetuando-se coletas quinzenais de insetos em povoamento homogêneo de Hevea brasiliensis, clone RRIM 600, com 7 anos deidade. Utilizou-se duas armadilhas luminosas, sendo uma instalada a 1,5 m (armadilha luminosa I) e outra a 11,0 m do solo (armadilha luminosa II) e 10 armadilhas de água de 30,5 cm de diâmetro por 7 cm de altu a, sendo 5 pintadas internamente de. amarelo e 5 de branco. A área útil foi de 1 ha dentro de 3 ha de área cultivada. As bandejas de água foram distribuídas ao acaso sobre o solo limpo, permanecendo no campo por uma semana. As armadilhas luminosas foram ligadas ao entardecer efetuando-se no dia seguinte, ao amanhecer, a coleta dos insetos capturados.
O material coletado foi preservado em álcool 70% e triado em laboratório. Separou-se os insetos da ordem Hymenoptera, que foram identificados à nível de família, sendo as formigas identificadas a nível genérico e separadas em morfoespécies. Identificações à nível de espécie foram realizadas sempre que possível. Para a identificação tilizou-se as chaves taxonómicas de HÕLLDOBLER & WILSON (1990) e BOLTON (1994). Várias identificações específicas foram realizadas com base em comparações com material depositado nas coleções do Museu de Zoologia da USP e na Coleção Entomológica "Adolph Hempel" do Instituto Biológico. Os espécimens coletados foram depositados, após a identificação, na última coleção.
A presença de uma determinada espécie em uma armadilha foi considerada como uma amostra desta espécie, independente do número de indivíduos coletados.
RESULTADOS
No período de estudo foram capturados, em todas as armadilhas, 4.002 exemplares de formigas, pertencentes a 76 espécies, 26 gêneros e 6 subfamílias (Tabela 1). A subfamília dominante foi Myrmicinae, representando 40,8% das espécies e 42,5% dos indivíduos coletados (Fig. 1). Nas subfamílias Pseudomyrmecinae e Formicinae, foi coletado um elevado número de indivíduos pertencentes, entretanto, a um pequeno número de espécies. O oposto ocorreu com a subfamília Dolichoderinae (Fig. 1).
Zacryptocerus pusillus Klug, Pseudomyrmex flavidulus F. Smith, Pheidole oxyops Forel, Camponotus sp. 2, Pseudomyrmex. gracilis Fabricius, Camponotus sp. 5 e Linepithema sp. 3 foram as espécies mais freqüentes, e com maior abundância de indivíduos coletados, ao longo das avaliações (Tabela 1 e Figs. 2 a 8). P oxyops teve picos populacionais nos meses mais chuvosos (Fig. 4). Z. pusillus ocorreu em maior incidência tanto no mês de julho/89 como nos meses mais chuvosos, com exceção de dezembro (Fig. 2). P. flavidulus teve picos populacionais somente nos meses mais secos (Fig. 3).
A armadilha que mostrou maior eficiência de coleta foi a bandeja branca seguida da bandeja amarela (Tabela 1). No entanto, 138 indivíduos de P. flavidulus foram capturados na armadilha luminosa II. Muitos indivíduos desta espécie foram observados, visualmente, locomovendo-se nos caules das plantas analisadas. Esta espécie foi também coletada nas armadilhas de solo, sugerindo que amesma também pode forragear neste ambiente.
Referente às pragas de importância econômica, foi observada a presença da espécie Atta sexdens rubropilosa cortando e carregando folhas ainda novas para o interior de seus ninhos. Apesar de terem sido coletados poucos indivíduos desta espécie, sua abundância na área era relativamente alta.
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
O método de coleta através de bandejas coloridas e armadilhas luminosas possibilita a coleta de insetos de várias ordens. Os dados obtidos neste trabalho não apresentam caráter seletivo acentuado como ocorre com a metodologia de iscas de atração de formigas, que possibilita a obtenção de dados relativos às atividades de forrageamento das espécies dominantes, permitindo o estudo das características estruturais das comunidades estudadas. No entanto, a metodologia das armadilhas possibilitou uma análise geral da mirmecofauna de solo e arbórea, evidenciando que esta última, quando presente, reside em altura considerável na planta hospedeira, mostrando clara associação com a planta.
Espécies de Pseudomyrmex spp apresentam hábito arbóreo, com uma associação mutualística com a planta hospedeira, com exceção de P. termitarius, que possui hábito estritamente terrestre (JAFFÉ et al., 1993). Este gênero de formigas é conhecido por proteger sua planta hospedeira, em especial do gênero Acacia, contra insetos herbívoros e/ou folhas de outras plantas que eventualmente venham a tocá-la. As operárias de Pseudomyrmex são extremamente agressivas contra intrusos de todos os tamanhos (HÔLLDOBLER & WILSON, 1990). Agitar um ramo da planta pode fazer com que várias operárias ataquem de uma só vez o intruso, causando uma dolorosa picada com sensação de ardor por um longo tempo (HÔLLDOBLER & WILSON, 1990). A presença de P. flavidulus em cultura de seringueira pode ser benéfica, pois poucos insetos fitófagos foram observados nas plantas onde esta formiga estava presente. Entretanto faz-. se necessário desenvolver um estudo mais aprofundado para avaliar se a presença desta espécie de formiga impede que insetos fitófagos se alimentem da planta hospedeira.
Sabe-se que espécies dePheidole e Camponotus também vivem sobre plantas. Muitos autores observaram que algumas espécies de Pheidole não são aptas a defender as plantas contra a maioria dos herbívoros, no entanto, LETOURNEAU (1983) observou que tais formigas removem ovos e estágios jovens de insetos herbívoros ao invés de enfrentar os adultos.
Era esperada a alta atividade de A. sexdens rubropilosa como observada em campo. SANTOS et al. (1985) relataram que a seringueira pode ser atacada por esse inseto ao longo de toda a sua vida, principalmente na fase inicial.
Foi baixa a ocorrência de Solenopsis saevissima F. Smith neste estudo, embora esta espécie já tenha sido citada como integrante comum e importante da cultura da seringueira. Além de proteger insetos sugadores fitófagos, as formigas lava-pés atacam os seringueiros quando da manipulação das plantas para a extração do látex (FAZOLIN, 1991).
Fig. 1Proporção de espécies e de indivíduos pertencentes a seis subfamílias de formigas coletadas na cu1 tura de seringueira em Ibitinga, SP.
Fig. 2
Número de indivíduos de Zacryptocerus pusillus coletados em bandeja amarela e bandeja branca na cultura de seringueira, município de Ibitinga, SP, no período de março de 1989 a maio de 1990.
Fig. 3
Número de indivíduos de Pseudomyrmex fiavidulus coletados em bandeja amarela, bandeja branca e armadilha luminosa II na cultura de seringueira, município de lbitinga, SP, no período de março de 1989 a maio de 1990.
Fig. 4
Número de indivíduos de Pheidole oxyops coletados em bandeja amarela, bandeja branca e armadilha luminosa I na cultura de seringueira, município de lbitinga, SP, no período de março de 1989 a maio de 1990.
Fig. 5
Número de indivíduos de Camponotus sp. 2 coletados em bandeja amarela, bandeja branca e armadilha luminosa I na cultura de seringueira, município de lbitinga, SP, no período de março de 1989 a maio de 1990.
Fig. 6
Número de indivíduos de Pseudomyrmex gracilis coletados em bandeja cultura de seringueira, no município de lbitinga, SP, no período de março de 1989 a maio de 1990.
Fig. 7
Número de indivíduos de Camponotus sp. 5 coletada em bandeja amarela, bandeja branca, armadilha luminosa I e armadilha luminosa II na cultura de seringueira, município de Ibitinga, SP, no período de março de 1989 a maio de 1990.
Thumbnail Tabela 1
Espécies de formigas e total de indivíduos coletados em bandeja amarela (BA), bandeja branca (BB), armadilha luminosa I (ALI) e armadilha luminosa II (ALII) em cultura de seringueira, no município de lbitinga, SP.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Datas de Publicação
Histórico
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Sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.
(Hebreus 11:6)
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