Barba, bigode e cabelo
Dodô foi um de nossos primeiros barbeiros, o primeiro negro, e jogador do Rio Branco até 1924
NApor André Maia
14 de dezembro de 2025, às 08h00
Compartilhar continua após a publicidade“Minha mocidade foi vivida em campo de futebol. Bailes eram poucos. Não esqueço Andrelina Machado, era a melhor dançarina que conheci. Mas meu grande amor, a Jorgina, conheci foi mesmo em uma festa de Santo Antônio. O que sei de escrever, ler e das quatro operações de aritmética, devo ao professor Silvino José de Oliveira.”
Estas são algumas respostas dadas a Hercule Giordano por Salvador Dias, conhecido de todos como Dodô, para uma matéria publicada neste jornal em 23 de agosto de 1982, exatos dois meses antes de sua morte. Dodô foi um de nossos primeiros barbeiros, o primeiro negro, e jogador do Rio Branco até 1924.
São frases que muito dizem de uma longeva vida simples, de quem nasceu antes da criação do Distrito de Paz de Villa Americana e faleceu durante o auge do desenvolvimento econômico da Princesa Tecelã, no final do primeiro mandato popular de Waldemar Tebaldi.
Filho de Joaquim e Faustina Dias, nasceu em 9 de outubro de 1902, na famosa rua do Pito Aceso, como era conhecida a Rua Capitão Corrêa Pacheco. Seu pai foi tanoeiro no alambique de Theodoro Rehder. De sua primeira infância lembrava de passar os dias jogando pelada nas ruas pacatas do pequeno vilarejo. Disse que, muitas vezes, eles e seus colegas apanharam das mães por roubar meias para fazer bolas.
“Não havia carros, nem outros veículos, a gente jogava completamente à vontade até rasgar a bola”, relembrou naquela entrevista. Já aos 12 anos jogava com adultos e disse que não temia cara feia: “eu era ligeiro como um lambari e os barbudos não me alcançavam nem com botinada.”
Foi também menino que começou a aprender o ofício de barbeiro. Seu mestre foi João Truzzi, um dos fundadores do Rio Branco, na barbearia que ficava na Rua Coronel Bento Bicudo, a atual 12 de Novembro.
Em 1920, com 18 anos, casou-se com Jorgina em cerimônia realizada na matriz de Santo Antônio. Teve 12 filhos e 32 netos. O custeio familiar exigiu duas atitudes de Dodô: em 1923 montou sua barbearia própria, ao lado daquela de João Truzzi, e no ano seguinte parou de jogar futebol, pois os jogadores nada recebiam e ele precisava trabalhar.
Antônio Prata escreveu, dias atrás, que “da noite pro dia, quando ninguém tava olhando, as barbearias brasileiras fizeram uma harmonização facial completa” e que mais se parecem hoje com “algo entre um pub, um açougue hipster e uma cervejaria artesanal”, transformando-se em “Barber Shop”.
De fato, nossas antigas barbearias tinham como marca os azulejos brancos, verdinhos ou azuis e a assepsia. Não se usava maquininhas, tudo era na tesoura e na navalha. Eram templos masculinos para se falar de política, futebol ou da morte.
Nas primeiras décadas do século XX, as barbearias funcionavam aos domingos, dia de grande movimento, principalmente por aqueles que trabalhavam na lavoura. O que se ganhava, contava Dodô, dava para viver. “As crianças que os pais traziam para raspar o coco, a gente muitas vezes nem cobrava.”
Dodô também foi pioneiro no atendimento a domicílio, segundo nosso amigo Oswaldo Paciulli. Era sempre era visto cruzando a cidade com sua maletinha de instrumentos de trabalho. Em 1932, após muito sofrimento pela morte de uma filha, Dodô montou uma barbearia na Rua Bororós, na Conserva, onde permaneceu por 50 anos.
Outra personalidade famosa das barbearias americanenses é Thales, que vai completar, em 2 de fevereiro, 100 anos. Se você foi cliente dele ou conhece alguém que tenha alguma história para contar da barbearia de Thales, entre em contato conosco e nos ajude a contar mais essa história.
Compartilhar publicidade Memórias de AmericanaDe: lirauciogomes@doutorbahiano1925 - Para: [email protected]
Memórias de AmericanaNovamente, 'Americana conta sua história...' A cidade agradece!
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Memórias de AmericanaGrupo Escolar ‘Dr. Heitor Penteado’ e Professor Alcindo Soares do Nascimento
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