O sertão em São Paulo
No findar de agosto me chega carta nova do doutor Paulo Bezerra Dá conta dos tempos em que se pegava os caminhos do sertão de antigamente nos lombos de animais até que foram surgindo os primeiros caminhões que obrigaram a aberturas das primeiras estradas de rodagem. Aí foram aparecendo os mistos e as sopas. De repente veio o asfalto e as distâncias se encurtaram. Naquelas eras causava o maior espanto nas pessoas quando o sujeito falava que iria viajar para São Paulo do sul. Hoje, diz o ilustre missivista, tudo é diferente, todo mundo viajava para todo mundo. Ninguém se admira disso. Ele mesmo já andou por estes lugares longes várias vezes. Em São Paulo do sul, sim, e de lá narra nesta carta três acontecimentos tendo ele como personagem. Vejamos:
“Amigo velho me desculpe, mas a conversa é a mesma.
Nas eras mais afastadas, o sertão de cada um era aquele que a vista alcançava indo até onde piscasse um relâmpago mesmo longe, muito longe, na linha do horizonte. Ou um trovão que gemesse. O povo era plantado no seu chão saindo para as obrigações da Igreja em capelas distantes ou para adquirir, no arruado mais próximo, o de que mais carecia. Aí as feiras foram surgindo às custas dos cascos dos animais e das apragatas do sertanejo até que com um comércio mais desenvolvido surgissem as estradas, os caminhões e as cidades-pólo. Assim foi Campina Grande relativamente ao Seridó. Hoje com as estradas asfaltadas as distâncias encurtaram o tempo. O povo então andava pouco. De Artur Dias havia uma sopa diária subindo de Natal pra Caicó e outra descendo do sertão em busca da beira do mar. Trafegavam os mistos – caminhões de carga e passageiros. E quando corria a notícia de que seu fulano ia a São Paulo, logo se indagava, cheio de espanto: “São Paulo do sul?” É porque também havia São Paulo do Potengi muito mais perto.
Nos dias de agora tudo se enche de gente: carros, trens, navios e aviões. E há as motos levando a longas distâncias e as bicicletas para menor alcance. As selas e cangalhas, é que, para esses fins, se tornaram de menor valia. De tal sorte que, pela necessidade de bater perna por aí afora, tem gente chegando, tem gente saindo e tem gente de passagem. Até eu já fui lá em São Paulo, o do sul, umas poucas de vezes, de onde trago três acontecimentos:
1 – Ao sair de um restaurante o garçom foi logo indagando: “Me desculpe, mas o senhor trabalha em Chico Cyty?” E eu todo compenetrado: “É! Eu faço uma pontinha lá” e ele em cima da bucha: “Logo vi”. Acho que pelo meu fraseado com certeza ele pensava estar falando com o próprio Coroné Pantaleão…
2 – Depois de um batizado fomos para os comes e bebes numa casa de recepção. Quando notei que a dona acendera as orelhas apurando a minha conversa, depois de dar-lhe “boa noite” tireia- a terreiro.
– É daqui mesmo?
-Sou. E o senhor é de onde?
– De Acari, no Seridó. Já ouviu falar nesse lugar?
– Não. Nunca ouvi falar. É a primeira vez.
– Admira. Dom Eugênio de Araújo Sales, sabe quem é?
– Ah, sim, sei, o cardeal. Homem de muito respeito.
– Pois é, nós somos de lá e até parentes, da mesma família maranganha. E de Vicentinho, que por lá ajudava numa padaria e cuidava das coisas da igreja, tem alguma notícia?
– Tenho. Ele é líder sindical aqui em São Bernardo do Campo.
– Pois é, nós domos todos da mesma terrinha, dita a cidade mais limpa do Brasil, assim como Rejane Medeiros, aquela famosa artista do cinema dos anos 60/70, com passagem pela Itália e hoje vivendo no Rio. Mas me diga: de Paulo de Balá tem algum roteiro?
– Num tenho não.
E eu gracejando na conversa: “Pois a senhora está falando com ele”.
Abraço pra lá, abraço pra cá, por fim, foi divertido o encontro.
3 – Ao pegar um carro de praça, entre os 35 mil da grande cidade, para ir a um jantar com Carlos Limarujo, Mário Palma e Alamy que estava casando um filho, puxei conversa com o motorista, chamado Jailson, que disse ser do Rio Grande do Norte, de Acari, da família Coelho, filho de Nenê e primo de Valdelice, mulher de Geraldo Paz. Botei os primos no telefone. Findo o papo dos dois ele disse que já me conhecia, pois quando morava no sítio Pai Mané me via transitar para as Pinturas.
Por isso é que se diz por aí: “Até as pedras se encontram”.
E se alguém duvida, tome roteiro com Roberto de Araújo Lima, com a sua mulher Carmem e com a minha mesmo, que não anda com conversa fiada.
Receba, com os seus, meu abraço fraterno.
Natal, 24 de agosto de 2008.
Paulo Bezerra.”
O livro de Marcius
Amanhã, no Cais 43, da Ponta do Morcego, tem o lançamento do livro de Marcius Cortez, “O Golpe na Alma”. O educador Paulo Freire e o seu Sistema de Alfabetização de Adultos são o mote deste ensaio marcado de acentuado tom poético. Memórias do escritor que também é publicitário, com incursões no jornalismo e na critica literária. Aí vêm as lembranças do seu engajamento ideológico nas lutas de Recife dos anos sessenta, os companheiros e amigos pernambucanos, as descobertas literárias e políticas (Marcius fez parte da equipe de Paulo Freire). Depois São Paulo, onde vive e se afirmou como um dos mais importantes nomes da publicidade brasileira. Marcius é natalense.
Na orelha, a editora francesa Anne-Marrie Jouffroy escreveu: “Agora temos a sorte de ver “O Golpe na Alma, publicado pela Pé-de-Chinelo Editorial. Parafreando um pensador da nossa predileção que declarava que “gostaria de escrever algo que fosse extraído das coisas como o vinho e extraído das uvas”, posso afirmar que “O Golpe na Alma” é extraído da uva, do bago da laranja, da polpa da graviola, da casca da mangaba e das sementes da fruta da paixão.”
Lançamento marcado para começar coisa das cinco da tarde.
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Como fazer
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo.
(Salmos 23:4)
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