Tesouro guardado

Viver Tesouro guardado por Redação Tribuna do Norte 8 de abril de 2006 8 de abril de 2006 FacebookTwitterWhatsAppTelegram

O gravador paraibano Ciro Fernandes, 64 anos, expõe seu acervo particular de xilogravuras, desenhos, gravuras e ilustrações a partir das 18h da próxima segunda-feira na Fundação Capitania das Artes. Mais de 100 obras do artista ficarão à disposição do público até o dia 29 de abril, quando seguem para o Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro. Na ocasião, às 17h, Fernandes ainda recebe um grupo de estudantes da UFRN para uma “Conversa com o Artista”, onde contará parte de sua história e o significado da xilogravura em sua vida.

Bem humorado e avesso à exposições, ele conta que não sabe porque aceitou o convite de um amigo para trazer as obras depois de 11 anos escondido do grande público. “Vai ser a maior exposição da minha vida. Nunca havia mostrado meus trabalhos aqui. Para você ter uma idéia a exposição não tem nem nome”, revela.

Ainda assim, se disse feliz por estar na cidade que o abrigou quando fugia da seca no sertão da Paraíba de 1958. “Vi a Copa do Mundo aqui em Natal. Cheguei com 16 anos porque no Nordeste tem aquela coisa da família mandar os parentes criarem os filhos. Vim para a casa da tia Velcides, que é muito brava e morava em Ponta Negra. Quando chegava alguém falando o nome dela, saía gritando que ali não vendia remédio para barata”, diverte-se.

Ele está em Natal desde o início da semana ministrando um curso de xilogravuras para 17 alunos, entre artistas e interessados na arte, no Centro Cultural ‘Chico Miséria’, localizado na área de lazer do conjunto Panatis, Zona Norte. “Na verdade não ensino nada. O pessoal já sabe de tudo, os alunos são muito bons. E tem uma coisa aí: é a primeira vez que dou aula na minha vida”, revela.

Fernandes afirma que não segue uma linha nem se enquadra no perfil de qualquer escola. Também não demonstra interesse pelas datas quando questionado sobre o início do trabalho profissional. “Não tenho idéia. Trabalho desde criança. Em Uiraúna, onde nasci, os cordéis eram feitos no meio da rua. Minha mãe pintava também. Mas não sei quando foi o início. Acho que ainda estou começando”, disse.

A relação do xilogravurista com o cordel é antiga. No Rio de Janeiro, passou a ilustrar os trabalhos de amigos da feira de São Cristóvão, reduto de nordestinos, na época em que unia a arte e a técnica em agências de publicidade cariocas. Das andanças pelo sudeste (além do Rio, morou em São Paulo) lembra dos momentos mais difíceis e divertidos. “Fui para São Paulo porque um amigo me disse que eu estava perdido na Paraíba. Quando cheguei lá notei que o cara nunca soube o que era estar perdido. Eu não conhecia ninguém. Fui atrás de dinheiro, mas fiquei pouco tempo e me mudei para o Rio porque diziam que tinha muita mulher. Foi pior. Quando desci do ônibus uma garota me olhou e piscou. Não fui atrás pensando que viria outras, mas estou na mão até hoje”.

Entre as principais obras de Ciro Fernandes estão ilustrações de livros de amigos como o sertanista potiguar Oswaldo Lamartine, Rachel de Queiroz, Ana Maria Machado e Autran Dourado. Seus traços foram parar até num CD comemorativo do cantor e compositor Zé Ramalho, que também faz parte do acervo que será exposto na Funcarte.

Namoro com Erundina nos tempos de Uiraúma

Para Ciro Fernandes, a imagem do tempo é o parapeito da ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina. Os dois nasceram na mesma rua do município de Uiraúna, interior da Paraíba. Ele confessa que, ainda criança, forçava a passagem em frente à janela da casa dela quase todos os dias sonhando com a missão impossível. “Namorei Erundina, mas só quem sabia era eu. Tinha dias em que eu passava várias vezes só para vê-la. Era ela e aquele parapeito na janela. E que parapeito! Uma dessas vezes ela se irritou: `o que é isso, Chico !?´ Mas era divertido. Além dela, também é de Uiraúna o jornalista José Nêumane Pinto. Nasceu na mesma rua que a gente. Até porque só tem uma mesmo”, brinca.

E foi no interior da Paraíba que Fernandes despertou para a arte. As raízes estavam dentro de casa. A mãe dele, a artista plástica Socorro Cavalcante, 81, expunha nas telas uma pintura primitiva que revelava o cotidiano simples da região nos anos 50. As obras da matriarca da família Fernandes – cerca de 20 gravuras – também serão expostas por Ciro a partir da próxima semana na Funcarte. “Minha mãe vem de uma família de artesãos e músicos. Não tinha um estilo definido. Eram desenhos primitivos que retratavam a vida que a gente levava naquele tempo. Vou abrir a exposição com os trabalhos dela. Infelizmente, ela não vai poder estar aqui para acompanhar. A viagem é muito dura”, explica.

Na coletânea de obras e depoimentos de amigos sobre sua vida, Há Sempre Uma Rosa No Contorno Do Caminho, Ciro faz um breve resumo da carreira até o nascimento dos filhos. “Eu nasci em Uiraúna, Paraíba, em 31 de janeiro de 1942. O mundo pegava fogo. Tive uma infância bonita e desobrigada. Vivia nos oitões das igrejas, bulandeiras, engenhos e cacimbas, entre a morte e a vida das cantorias e forrós das festas de casamento da casa dos meus avós que ainda tem nas suas paredes a minha arte de infância”, descreve antes de fazer uma revelação que coloca Natal na rota de sua vida: “No ano de 58 em Natal tia Velcides me mostrou pela primeira vez o mar. Fiquei doido. Do alto da duna procurava o mar e não achava. Aquela tira azul, vista de longe, mais parecia uma serra que cortava o horizonte do sertão nordestino”.

Serviço
Exposição de xilogravura. Artista: Ciro Fernandes. Quando: segunda-feira, 10 de abril. Onde: Funcarte. Entrada franca

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