Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo50 anosGeada negra deu início ao processo que transformou a economia do Paraná no 4º PIB do paísEstado dominava produção no Brasil e substituiu o café pela soja e pelo milho. (Foto: Jonas Oliveira/Arquivo AEN)

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A geada negra que destruiu os pés nas plantações de café no Paraná e mudou a realidade socioeconômica do estado completa 50 anos nesta sexta-feira (18) com as feridas da tragédia curadas pelo tempo. O episódio mais emblemático da história da agricultura estadual - marcado por memórias tristes e pelo desespero de famílias que perderam tudo - passou a ser visto de outra maneira pelas lentes dos paranaenses que analisam o desastre climático após meio século.

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Quem viveu o dia 18 de julho de 1975 relata que o final da tarde do dia anterior foi coberto de um céu vermelho em tom profético. Enquanto Curitiba ficava mais elegante com a neve que enfeitava a capital do estado no dia 17 de julho, no norte do Paraná os agricultores viviam o último dia de uma era. A geada negra marcou o fim do ciclo do café, mundialmente conhecido pelo pomposo título de “ouro verde”.

A edição impressa da Gazeta do Povo estampava o contraste de ânimos no estado. “Geada destrói todos os cafezais”, foi a chamada da reportagem sobre o assunto no dia 19 de julho daquele ano, com fotos na capa dos moradores de Curitiba admirados entre as brincadeiras com flocos de neve.

Na capital do Paraná, o dia histórico foi marcado pela neve nas ruas. (Foto: Coleção Miscelânia/Museu da Imagem e do Som do Paraná)

De metade do café brasileiro para 0,1% da safra nacional 

Segundo o jornalista Rogério Recco, pesquisador e autor de livros sobre a história da agricultura no Paraná, o café paranaense representava 48% da produção nacional antes da tragédia climática. O apogeu cafeeiro teve seus dias de ouro entre as décadas de 1940 e 1950, em Londrina, a maior cidade do interior do estado, considerada então a capital mundial do café.

“Não sobrou nenhum pé, mas os agricultores já tinham colhido o café e a safra daquele ano acabou sendo salva. O problema foi em 1976, quando o Paraná passou de quase metade da produção para apenas 0,1% da safra nacional”, comenta o pesquisador.

No entanto, ele lembra que o declínio do café já havia começado na década de 1960 com a superoferta, a necessidade de queima de sacas pelo governo federal e a oscilação dos preços. Além disso, Recco relata que muitas pessoas sem conhecimento agrícola investiram nos cafezais do norte paranaense, iludidos pela propaganda do dinheiro rápido e fácil, o que resultou no abandono de plantações após a geada negra. 

“Mesmo em dificuldades, os produtores tradicionais continuaram em frente. Eles plantavam um monte de coisas nas lavouras, como feijão, arroz, mandioca e conseguiram sobreviver, tocar a vida. [...] A geada já pegou grande parte dos cafezais em decadência com o café dando lugar para o algodão”, explica. 

Mas o algodão também não virou o novo café. O produtor paranaense resiliente descobriu as plantações de grãos e viu que o fim significava o começo de uma nova era. Foi o início do ciclo da soja e do milho, das cooperativas e da industrialização no campo.

Atualmente, o Paraná conta com 26 mil hectares de cafezais e uma produção de 43 mil toneladas de café, voltado principalmente para mercado de nichos com bebidas gourmet. “O café especial agrega mais valor à produção em relação ao produto de consumo tradicional. Com maior qualidade, o café tem poder de conquistar mercados mais restritos e que remuneram melhor o produtor”, aponta a coordenadora do Departamento Técnico e Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Ana Paula Kowalski.

De acordo com dados da Embrapa, o Paraná tem uma área plantada de soja de 5,86 milhões de hectares e teve uma produção de 21,48 milhões de toneladas de grãos na safra 2024/2025.

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Geada negra queimou café, mas acelerou outras atividades no setor produtivo 

O novo ciclo econômico do Paraná diversificou o capital de investimentos em diferentes setores, tanto no campo como na construção das grandes cidades, que receberam a mão de obra proveniente dos cafezais arrasados. Seja na zona rural ou na área urbana, a industrialização mudou a dinâmica da economia do Paraná, que hoje possui o quarto maior Produto Interno Bruto (PIB) do país, impulsionado pelo setor produtivo.

Com um crescimento de 63% nos últimos seis anos, segundo o governo estadual, o PIB do Paraná saltou de R$ 440 bilhões em 2018 para R$ 718,9 bilhões em 2024. O Paraná também passou a liderar a indústria de transformação no Sul do Brasil e a ocupar a terceira colocação no país nessa área. 

“Se a geada queimou o café, também acelerou um processo de florescimento de outras atividades e de outras possibilidades”, afirma o economista Marcelo Percicotti, gerente de Desenvolvimento Industrial e Social da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).

Na área urbana, o Paraná também vivia uma transformação com grandes obras de infraestrutura na década de 1970 como a construção da usina hidrelétrica de Itaipu, a Cidade Industrial de Curitiba - bairro da capital - e rodovias, o que atraiu a mão de obra no êxodo rural para as cidades paranaenses.

Além disso, a então Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar) desenvolveu estratégias para fomentar os polos industriais no interior do estado, o que resultou em municípios paranaenses como referências nacionais de diferentes segmentos de produção, impulsionado pelo deslocamento do capital antes concentrado no café para os investimentos industriais.

“No final da década de 1970, foi criado o primeiro parque industrial com apoio público em Arapongas, que estimulou o crescimento do polo moveleiro. Outras atividades incipientes também começaram a se desenvolver, como as confecções em Cianorte e a indústria de bonés em Apucarana”, lembra o economista.

Percicotti afirma que o objetivo da Fiep é que com uma boa estratégia de desenvolvimento industrial, o Paraná possa ocupar a segunda colocação entre os estados mais desenvolvidos do país com destaque em outros setores, além do agronegócio, como madeira, confecções, papel e celulose, metais, produtos plásticos, tecnologia e automóveis.

“Por ser um estado pujante com indicadores econômicos, produção e empregabilidade, acima da média nacional, a gente acredita na força da economia paranaense no cenário nacional por causa dessa diversidade [industrial] altamente competitiva, que permite estratégias com o posicionamento do Paraná entre os principais estados do país”, ressalta.

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