Um ano desde as águas de maio
Em 27 de abril de 2024, o Rio Grande do Sul começava a enfrentar os impactos de uma enchente histórica, que afetou 478 dos 497 municípios do Estado. Este que ficou marcado como um momento de perdas e incertezas, mas também de solidariedade – com as diversas mobilizações em prol do povo gaúcho. Um ano depois, o RS ainda tenta se reconstruir frente aos prejuízos estruturais e financeiros da maior tragédia climática do século 21 no território gaúcho. Além disso, as memórias dos atingidos ainda estão latentes e, também, a preocupação com os impactos da crise climática.
As fortes chuvas, que viriam a ocasionar as cheias, começaram em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, e seguiram por mais de 10 dias. Esse alto volume de precipitações sobrecarregou as bacias dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos e Gravataí. Como o sistema hidrográfico do RS é interligado, essas águas chegaram ao Lago Guaíba, em Porto Alegre, e à Lagoa dos Patos, passando por municípios da região, como São Lourenço do Sul, Pelotas e Rio Grande. Esses transbordamentos invadiram municípios distribuídos por todo o Estado, destruindo cidades, tirando famílias de suas casas e até mesmo gerando a morte e o desaparecimento de pessoas. Ao todo, a tragédia deixou 184 mortos e 25 pessoas ainda seguem desaparecidas.
Relembrando
Na Região Sul, já no dia 26 de abril, chuvas de 150mm atingiam Arroio Grande, interditando ruas e desalojando famílias. Em Pelotas, os alagamentos começavam causando danos em imóveis. Já no dia 29, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alertas de elevados acumulados de chuva e riscos de tempestades, alagamentos, transbordamentos, deslizamentos e queda de granizo.
No dia seguinte (30), foram registradas as primeiras mortes. Dois homens morreram após o carro em que estavam ter sido arrastado pela água, em Paverama. O número de vítimas chegou a oito ainda naquele dia. Além disso, uma ponte foi levada pela água em Santa Tereza. Outra ponte foi destruída em Santa Maria, a estrutura era a principal ligação do Centro do RS com a Região Metropolitana de Porto Alegre.
Em 1º de maio, a Defesa Civil estadual passou a emitir relatórios sobre a situação da tragédia que se instalava. No momento, havia 104 municípios afetados. No dia 2, o governador Eduardo Leite (PSDB) decretou o estado de calamidade pública, reforçou os salvamentos de pessoas e recebeu o presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para articular ações emergenciais. O rio Taquari já atingia o maior nível da história, ultrapassando os 30m de altura. No momento, Rio Grande estava em alerta para a elevação da Lagoa dos Patos e a Prefeitura de Pelotas preparava ações preventivas.
A segunda comporta de segurança da zona norte de Porto Alegre se rompeu no mesmo dia. A capital gaúcha registrava 450 pessoas desabrigadas e o número de mortes no Estado chegava 39. Ainda, o Guaíba ultrapassou o recorde da enchente de 1941, chegando aos 4,77m. Além disso, as duas pontes de acesso da Região Sul à capital foram bloqueadas. As atividades da Rodoviária de Porto Alegre foram suspensas no dia 4, quando as águas atingiram o terminal rodoviário, bem como o Centro Histórico, o Mercado Público, entre outros.
No dia 5, o Guaíba subiu mais, atingindo 5,33m; e Lula e outras autoridades sobrevoaram a capital e o município de Canoas, onde 180 mil pessoas foram atingidas. Já no dia 6, o Aeroporto Salgado Filho, na Capital, também foi fechado. Na Região Sul, as águas da Lagoa dos Patos começavam a subir com 2,30m acima do normal em São Lourenço do Sul; 90cm em Rio Grande; 2m em Pelotas, além dos 2,22m no Canal São Gonçalo. Um dia depois (7), a Prefeitura de Pelotas divulgou o primeiro mapa com áreas de risco de inundação.
As prefeituras de São Lourenço do Sul e Pedro Osório declararam situação de emergência no dia 8 de maio, enquanto o Executivo de Pelotas criava a Sala de Situação e o de Rio Grande anunciava seu mapa de risco. Em Arroio Grande, o alto volume de chuva causava preocupação – havia 65 pessoas acolhidas em abrigos. Já em Cerrito, a falta de energia elétrica prejudicava os moradores, que estavam há 20 dias sem o serviço. Além disso, a dificuldade de entrega de combustível preocupava a Região Sul e os times gaúchos de futebol tinham seus jogos adiados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
No dia 9, aconteceu o resgate do cavalo Caramelo, retirado de cima de um telhado cercado pelas águas, virando um símbolo de resistência do povo gaúcho. Neste dia, o número de desabrigados em Pelotas aumentou para 486 e foi aberto um abrigo para famílias atípicas – que possuem integrantes com deficiência ou autismo. A Prefeitura de Cerrito também decretou situação de emergência.
O cenário de desastre do RS mobilizou pessoas dos mais diversos lugares do mundo, entre eles, o recentemente falecido Papa Francisco, que destinou mais de R$ 500 mil para auxílio aos gaúchos. As doações dos municípios da Região Sul também eram arrecadadas. O maior navio de guerra da América Latina, pertencente à Marinha do Brasil, chegou em Rio Grande no dia 11, também para missão humanitária. Outro município da região a receber reforços foi Pelotas, com dois tanques anfíbios Guarani, do Exército Brasileiro. Além disso, o Aeroporto João Simões Lopes passou a oferecer voos diários até São Paulo.
No dia 12 de maio, o RS já acumulava 147 mortes e 2,1 milhões de afetados pela tragédia. No dia seguinte (13), as águas levaram parte do trapiche do Laranjal, em Pelotas, onde foi decretada situação de calamidade pública. Já Morro Redondo decretou situação de emergência e Arroio Grande teve a Colônia de Pescadores de Santa Isabel alagada pela suba do Canal São Gonçalo.
No dia 15, Lula criou a Secretaria Extraordinária da Presidência da República para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul. O Canal São Gonçalo passava a marca histórica, chegando aos 3m; e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) prorrogou a suspensão das atividades até 1º de junho. A lagoa chegou ao seu recorde no dia seguinte (16), atingindo 2,85m. Turuçu também decretou situação de emergência.
A Prefeitura de Pelotas abriu um novo abrigo no dia 17, quando já havia 700 pessoas em abrigos municipais. Os moradores do bairro Promorar, em Arroio Grande, temiam a suba das águas. A CBF adiou o Campeonato Brasileiro de Futebol em prol dos times gaúchos. No dia seguinte (18), a Defesa Civil estadual instalou um Gabinete de Gestão Integrado Regional junto a Sala de Situação em Pelotas, de onde coordenava ações em 27 municípios da Região Sul e Costa Doce.
O São Gonçalo subiu a marca dos 3m novamente no dia 19, e a previsão de chuva e vento até o dia 23 deixava um alerta. Em São Lourenço do Sul, a Lagoa dos Patos chegou ao seu pico de 2,90m, já no dia 22, a Prefeitura solicitou medidas urgentes de apoio ao agronegócio. Nesta data, a Lagoa dos Patos subiu 20cm em três horas em Rio Grande e as fortes chuvas deixaram alagamentos em Jaguarão.
A lei que criou o Plano Rio Grande e o fundo para a reconstrução foi assinada pelo governador do RS no dia 24. A Emater/RS-Ascar de Pelotas apresentava os prejuízos no agronegócio, que passavam de R$ 1 bilhão. A prefeita de Pelotas na época, Paula Mascarenhas (PSDB), anunciava a suba do Arroio Pelotas e uma mudança no Mapa de Risco, adicionando mais regiões em alerta de inundação. A Associação Comunitária do Laranjal (Asclar) reivindicava por mais atenção às necessidades do bairro. São Lourenço do Sul tinha mais de 5 mil desalojados.
No dia 25, o Legislativo de Jaguarão realizava uma reunião para tratar sobre ações de auxílio aos desabrigados – eram 287 famílias. Enquanto a Prefeitura de Arroio Grande intensificava o apoio à comunidade Santa Isabel. A Lagoa registrou o menor nível nas últimas duas semanas em Rio Grande, com 2cm abaixo do cais. No entanto, no dia seguinte, voltou a subir, passando novamente o nível do cais, em 10cm. Em São Lourenço do Sul, a medição estava em 2,59m na régua da Cruz. Já o Canal São Gonçalo ultrapassava o maior nível da história, chegando a 3,06m.
Neste momento, a expectativa era de que Pelotas sofresse o pico da crise climática. No dia 27, as águas subiam mais, atingindo os 3,13m no São Gonçalo, 2,71m em São Lourenço do Sul, e 25cm acima do cais em Rio Grande. As medições da lagoa em Pelotas estavam comprometidas e as autoridades alertavam sobre o risco de contato com água contaminada. Já no dia seguinte (28), o canal baixava, mantendo-se próximo dos 2,90m, mas a prefeita de Pelotas mantinha o pedido de alerta.
No dia 29, as condições meteorológicas favoráveis permitiam a mudança do Mapa de Risco de Pelotas e a Prefeitura anunciava o plano municipal de recuperação dos atingidos. A UFPel anunciava o retorno das atividades no dia 3 de junho. Além disso, o governador esteve no município para vistorias da área atingida e participar de uma reunião na Sala de Situação. Arroio Grande elaborava um decreto de Situação de Calamidade Pública após mais de R$ 250 milhões em perdas.
Após 30 dias de cheias, o governador apresentava o balanço das enchentes, que contabilizava 77 mil pessoas resgatadas e a liberação de R$ 658,8 milhões. As perdas na agropecuária na região sul já eram de mais de R$ 1,85 bilhão. Felizmente, as águas recuavam em São Lourenço do Sul e em Rio Grande, reduzindo para 2,34m e 6cm abaixo do cais, respectivamente. Em Pelotas, algumas famílias voltavam às moradias e o município desativava dois abrigos – ainda havia centenas de pessoas alojadas em outros quatro abrigos municipais.
Começando o mês de junho, as águas da Lagoa dos Patos e Canal São Gonçalo tinham redução significativa em Pelotas, baixando para 1,77m e 3,13m, respectivamente. No dia 4 de junho, foram contabilizadas mais de 206 mil propriedades rurais afetadas pelas enchentes. A Prefeitura priorizava a recuperação de acessos à Colônia de Pescadores Z-3 e ao balneário Valverde.
Em 5 de junho, a drenagem do Aeroporto Salgado Filho, em POA, feita por arrozeiros, era concluída. No dia seguinte (6), a prefeita de Pelotas encerrava as atividades da Sala de Situação e atualizava o Mapa de Risco – que seria suspenso no dia 12, quando o São Gonçalo chegava a 2,40m. Já no dia 7, a Estação Rodoviária de Porto Alegre retomava as atividades.
Algumas pessoas retornavam para suas residências na Colônia de Pescadores Z3, no dia 13, quando a operação Volta para Casa ajudava 40 famílias. No entanto, a Prefeitura de Pelotas ainda mantinha quatro abrigos municipais, que contabilizavam 109 pessoas. Em Rio Grande, 31 pessoas ainda estavam em abrigos da Prefeitura. Apenas no dia 21, que Pelotas desocupava mais um abrigo, na Escola Edmar Fetter, no Laranjal, mas ainda haviam famílias mantidas em abrigos.
E agora?
Apesar de todos os esforços, o RS ainda está em processo de reconstrução, com famílias fora de casa e cidades destruídas. Espera-se que a união de forças continue, a fim de reerguer nosso destemido povo gaúcho. Além disso, faz-se cada vez mais necessária a cobrança dos poderes pela resiliência e preparo para fenômenos naturais, frente à crise climática que se instala no planeta. Episódios como esse podem e devem ocorrer, mas precisamos estar preparados.
Últimas Buscas
- » rosane da silva santos
- » belterra para
- » anori imagens
- » fairmont rio
- » gravadoras
- » mulher se enforca em pirapora mg
- » dia internacional contra a discriminacao racial
- » flavio alves
- » serca seca
- » quantas escolas municipais existe em itaberaba bah...
- » Milagre do Destino
- » Kings League
- » Pe de-Meia 2025
- » Feriados nacionais 2025
- » Onibus invade agencia
- » Roberta Flack
- » Galatasaray x Fenerbahce
- » Tabela Paulistao 2025
- » Feriado de Carnaval 2025
- » SAG Awards 2025
Como fazer
O Senhor é bom e justo; por isso mostra o caminho aos pecadores.
(Salmos 25:8)
Bíblia Online