Novas retomadas Mbya Guarani, Kaingang e Xokleng no Rio Grande do Sul: retornos às memórias, aos territórios e à vida
Retomar a terra, para os povos indígenas, é um ato de coragem e de justiça, escreve Roberto Liebgott, do Cimi Regional Sul
Retomada Kagma realizada pelos povos Kaingang e Xokleng, em Canoas (RS). Foto: Comunidade Kagma
Por Roberto Liebgott, do Cimi Regional SulNo dia 2 de maio ocorreram, simultaneamente, duas importantes retomadas de terras por indígenas no Rio Grande do Sul. Uma em Porto Alegre, no bairro Lami, próxima à Tekoa Pindó Poty, dentro da grande territorialidade Mbya Guarani, mas numa área que foi cercada e hoje serve à exploração madeireira de oportunistas.
Lá as famílias Mbya Guarani se sustentam na esperança de viver num ambiente de paz e tranquilidade. Elas requerem da Funai a demarcação da terra, denominada Ka’aguy Mirim.
Outra Retomada, a Kagma, foi realizada pelos povos Kaingang e Xokleng, em Canoas, Rio Grande do Sul, num terreno abandonado há décadas e que pertence ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Portanto, uma área pública da União, sem destinação social.
“Lá as famílias Mbya Guarani se sustentam na esperança de viver num ambiente de paz e tranquilidade”
Os Kaingang e os Xokleng reconhecem que seus antepassados passaram por aquela região e hoje os conduzem, através dos sonhos e das memórias, de volta para casa.
As retomadas de terras demonstram o contínuo caminhar dos povos, buscando retornar aos seus lugares de ser e viver, dos ancestrais, das memórias e das esperanças de reconstruírem os futuros saqueados dos pés, mãos, corpos e espíritos dos originários filhos e filhas do Brasil.
Retomar a terra é um ato de coragem e de compromisso pela vida e pelos direitos fundamentais, tão maltratados pelas autoridades públicas.
“Retornar é semear o que foi interrompido e permitir que o espírito reconheça novamente o seu lugar no grande círculo da vida”
Retomada Mbya Guarani, próxima à Tekoa Pindó Poty, numa área que foi cercada e hoje serve à exploração madeireira de oportunistas. Foto: Comunidade Mbya Guarani
É um ato de justiça, para recompor o que foi tirado. É um ato de amor pelos filhos e netos que precisam de um lugar onde irão gestar o futuro. É um ato de pertencimento àquelas e àqueles que foram expulsos e mortos pelos colonizadores e escravagistas.
Os Kaingang, Xokleng, Mbya Guarani e Charrua, quando retomam seus lugares antigos, não buscam afrontar pessoas ou instituições, eles escancaram as injustiças e reforçam as perspectivas dos direitos às diferenças e de viverem seguros nos seus espaços sagrados, os que ainda restam, em meio ao caos da destruição e da ambição causadas por pessoas que administram um sistema de opressão e dominação, caracterizado, por elas, como sendo um mundo “civilizado”.
“Os indígenas quando retomam seus lugares antigos, não buscam afrontar pessoas ou instituições, eles escancaram as injustiças”
Marcia Kambeba, em suas falas e reflexões reforça que: “Retomar não é apenas voltar. É recordar-se! Na caminhada de retorno espiritual, os passos não são apenas físicos: são ecos da alma que se orientam pela memória. Na cosmovisão ancestral aprendemos que tudo está vivo e se comunica: as árvores, os rios, o vento, a palavra. E aí, neste tecido sagrado, a oralidade não é só narrar, ela se torna um rito. E é através dela que a memória respira e que a identidade se refaz. No meu entendimento, a RETOMADA é também um gesto de escuta. Escutar o que foi silenciado, escutar quem veio antes, escutar o que ainda vive em nós. Retornar é semear o que foi interrompido e permitir que o espírito reconheça novamente o seu lugar no grande círculo da vida”.
“São nesses e em outros movimentos de luta e resistências que devemos nos engajar, apoiar e nos fortalecer”
Retomada Mbya Guarani, próxima à Tekoa Pindó Poty, numa área que foi cercada e hoje serve à exploração madeireira de oportunistas. Foto: Comunidade Mbya Guarani
Marcia Kambeba expressa os sentidos e sentimentos dos povos que retomam suas terras, mesmo em contextos que foram urbanizados, nas cidades e pelos campos. É o retorno ao convívio das almas que passaram, o retorno ao lugar onde os umbigos foram enterrados. É voltar a ser gente com esperança de novo.
São nesses e em outros movimentos de luta e resistências que devemos nos engajar, apoiar e nos fortalecer. Criando raízes que se enterram tão profundamente que jamais poderão ser arrancadas, mesmo que cortem os galhos e os troncos. Com isso, construiremos um outro mundo possível, cheio de bons sentimentos, bons significados, boas energias e abraçando-nos pelo Bem Viver.
Porto Alegre (RS), 06 de maio de 2025.
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