A (Nossa) Senhora do Porto - Observador

Há um erro bastante comum que vejo muitas vezes ser repetido e que, como portuense e  historiador, me irrita profundamente. Este erro está generalizado e nem no Porto nos  safamos de ver alguns dos seus habitantes insistirem nele. Falo, pois, do facto de se  julgar que São João Baptista é o santo padroeiro da nossa cidade.

Para que fique claro, nada tenho contra São João, até porque somos homónimos, não me  faltando, por isso, medalhas em sua homenagem na gaveta do meu quarto, oferecidas tão  gentilmente por aqueles que foram ao meu batismo. Para além disto, em seu nome  celebramos a maior festa da cidade, cuja tradição é tão antiga que é até difícil perceber  com exatidão quando surgiu. Afinal, a assunção de que São João é o nosso santo protetor  vem precisamente da dimensão e celebridade desta comemoração, sendo o erro  perfeitamente perdoável para aqueles que não são originários do Porto. O mesmo não  poderei dizer dos que são.

A nossa protetora – como a maioria dos leitores sabe – é, sim, Nossa Senhora da  Vandoma, e considero a razão de o ser tão interessante e tão profundamente ligada à  nossa história que me parece uma injustiça ignorá-la. Na verdade, esta foi, e ainda é, o  elemento central no escudo da cidade. Mas afinal, por que razão temos como padroeira  uma Nossa Senhora com apelido de terra francesa?

A história conta-nos que, nos finais do século X, uma armada de cavaleiros da Gasconha  dirigiu-se à Península Ibérica para combater os mouros que, à data, controlavam a grande  maioria do seu território, onde o Porto se incluía. Como eles cá chegaram é incerto,  havendo alguma dissonância nesta matéria, onde as lendas muitas vezes assumem o  plano central da narrativa. O que é certo é que atracaram nas margens do Douro e  exerceram um papel fundamental ao auxiliar D. Munio Viegas na conquista da cidade aos  sarracenos. A cidade estava, naquela altura, totalmente em ruínas, tendo sofrido, nos  anos anteriores, duros golpes à sua paisagem e aos seus habitantes, encontrando-se  então num estado desértico. A Armada dos Gascões – como ficaram popularizados – foi  então fundamental não só na conquista, como também na recuperação e reconstrução  da nossa cidade.

Com estes homens veio também um clérigo chamado D. Nónego, que tinha sido  precisamente bispo de Vandoma, cargo que renunciou para se juntar como comandante  da armada. De França, trouxe com ele uma imagem de Maria com o Menino Jesus ao colo,  alegadamente uma cópia de uma imagem existente na catedral de Vandoma. Nesta  senda, assim que a vitória foi confirmada e a reconstrução das muralhas se iniciou, não  tardou D. Nónego a nomear uma das suas principais saídas como Porta de Vandoma,  encimando-a com a imagem que trouxera.

Mas esta Senhora – que é tão nossa – é, hoje em dia, também de outros, e parece que a  viagem que fez de França até ao Porto não foi a mais distante. Esta Senhora atravessou  mares e chegou ao Novo Mundo, onde atualmente agracia habitantes do outro lado do Atlântico com a sua proteção, pois é também padroeira de cidades no Brasil, agora  conhecida por outro nome: Nossa Senhora do Porto. Este é o caso das cidades de  Andrelândia e de Senhora do Porto.

Como portuense, saber que a (nossa) Senhora atravessou um oceano e vive também em  Minas Gerais, com os portuenses – gentílico que tão bem usam os habitantes de Senhora  do Porto – faz-me orgulhosamente feliz. Assim, ao que parece, o ser-se portuense, ainda  que com motivos e tradições diferentes, já se expandiu mundialmente para lugares que no século X, em Vandoma, nem se imaginava conhecer. E isso agradeço à nossa  padroeira!

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