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O ANTIGO KEMP’S EM BOTAFOGO por Fernando Moura Peixoto

“A memória tem a característica singular de recordar, de um amigo ausente ou de uma viagem feita há muito tempo, só o que é agradável.”

CHARLES DUDLEY WARNER (1829 – 1900)

Mais uma baixa – se bem que foi passageira – aconteceu no comércio do bairro de Botafogo, desta vez na área da alimentação. Em 30 de abril de 2014, fechou as portas, momentaneamente, o Kemp’s, tradicional lanchonete administrada pelos irmãos Alcino, Adriana e Ana Paula Cardoso desde 1992.

O Kemp’s já existia quatro anos antes (1988), com o mesmo nome e outro proprietário, no térreo de um centenário sobrado – com pé-direito de seis metros – construído em 1913 e situado na Rua Voluntários da Pátria, nº 258, esquina com Rua das Palmeiras, na zona sul carioca.  Preservado pelo IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, abrigara anteriormente armazém, casa de móveis, agências bancárias e caderneta de poupança.

Os donos do imóvel, os lusitanos Alberto e Davi Cardoso (de Travassos de Cima, em Cinfães do Douro), passaram o ponto a um grupo do ramo gastronômico, que deu continuidade imediata ao negócio, com o sugestivo nome de Churrascaria Kemps, trocando quase todos os funcionários.

Os antigos clientes certamente sentiram falta do local onde eram servidas refeições a preços módicos – bufê, prato feito ou executivo -, de segunda a sexta-feira, no horário de almoço, até às 15 horas. Bem como desjejum, sanduíches naturais ou vegetarianos e sucos variados – combinados na hora, ao gosto e à vista do freguês. E saladas de frutas, pratos de verão, caldo de cana, coco gelado, açaí, pastas, pastéis, salgados em geral. Além de pizzas, tortas e um delicioso cafezinho, comum ou expresso, encerrando-se o expediente às 20h30m.

Ponto de encontro de pessoas de todas as idades, um bate-papo diário de amigos cativos, o lugar aliava bom atendimento, qualidade da comida e limpeza, em ambiente agradável e descontraído, com tevê a cabo transmitindo jogos de futebol e entretenimento. Na sobreloja havia um salão com ar condicionado para os fregueses, no qual se realizava ainda um bazar de roupas, calçados, bolsas e bijuterias, promovido mensalmente pelas irmãs Cardoso.

O carinho dos antigos patrões pelos empregados era tamanho (e a recíproca, também verdadeira), que a eles se referiam como “os meninos”.

As fotografias, tiradas entre dezembro de 2011 (Natal) e abril de 2014, atestam a popularidade do Kemp’s. Muitos utilizam também a grafia Kemps, adotada pelo novo dono, o cearense Raimundo Alves, que agora abre o estabelecimento a semana inteira, de sete à meia-noite.

Uma digressiva curiosidade. Segundo Alcino Cardoso, nos anos 1940 e 1950, o prédio pertenceu ao português Vasco Sameiro (1906 – 2001), “o maior ás do automobilismo bracarense”, lendário piloto que correu no Circuito da Gávea em 1937, no Rio. Sameiro foi contemporâneo do argentino Juan Manuel Fangio (1911 – 1995), do brasileiro Chico Landi (1907 – 1989) e do também português Manoel de Oliveira (1908 – 2015) – sim, o famoso cineasta -, autor de célebre frase: “Eu não fui um bom piloto, mas há um lugar onde dirijo bem: o cinema”.

O desempenho nas corridas de carros levou Vasco Sameiro a tornar-se representante de fábricas europeias de automóveis. Em 1993, em Braga, cidade natal do corredor, inaugurou-se o Circuito Vasco Sameiro, que possui um importante kartódromo anexado e uma pista recreativa de aviação em sua parte interna.

Embalando a trilha sonora, “As Time Goes By”, um clássico de Herman Hupfeld (1894 – 1951), e “Here, There And Everywhere”, da dupla John Lennon (1940 – 1980) e Paul McCartney (1942). Tudo isso a cargo interpretativo de Thadeu Ventura, saxes tenor e soprano; Chico Amaral, sax tenor; Clóvis Aguiar, piano e teclados; Esdra Ferreira, bateria; Milton Ramos, baixo e baixo acústico; Weber Lopes, guitarra e violão, e Sérgio Silva, percussão.

FERNANDO MOURA PEIXOTO (ABI 0952-C)

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