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ARTE EM GRAFITES 1 por Fernando Moura Peixoto

“O grafite é mais romanceado e intelectual que a pichação.”

GUSTAVO COELHO

Rebeldia dos jovens, demarcação do território de gangues de rua ou manifestação de arte popular surgida nos States, em Nova Iorque, no bairro do Bronx, na década de 1960? Ou simplesmente pintar muros e paredes pelo prazer de sujar e danificar a propriedade alheia? Utilizados pelas “tribos” como meio de expressão e comunicação, os grafites (“escritas com carvão”, na acepção do termo) vêm tomando conta das urbes através dos tempos, cada vez mais criativos e sofisticados com a utilização de tinta “spray” em aerossol.

Seus traços e rabiscos – alguns primorosamente coloridos, elaborados e requintados – se reproduzem simultaneamente pelo mundo, em todos os cantos imagináveis e possíveis. E adquirem especial status entre os pesquisadores e cultores deste movimento.

Na década de 1980, quando a moda surgiu no Brasil, o humorista J. Praiano afirmava que “filho de rico é grafiteiro; de pobre, pichador”. O mesmo Praiano garantia também que “as famosas inscrições rupestres nada mais eram que grafites dos povos pré-históricos, que queriam deixar sua marca para a posteridade”.

É interessante notar como a obra de um “escritor” (“writer”) por vezes se sobrepõe à do outro, ou a complementa, divergindo ou concordando com o tema exposto, adicionando novas figuras. E ainda é modificada, com o acréscimo de elementos próprios no grafitado primitivamente. Há um artista que cobre ou ladeia a palavra “ódio” com um coração e mensagens positivas: “só o amor constrói” e “mais amor, por favor”. Até um simples melão em estande no supermercado recebeu, bem humoradamente, feições humanas. Os toaletes dos locais públicos acumulam também uma enxurrada de escrevinhamentos, sendo a maioria grosseira e impublicável.

Para GUSTAVO Rebelo COELHO de Oliveira (mestre em Educação na UERJ com a tese “PiXação: Arte em Pedagogia como Crime”, doutor em Educação,  professor do curso de Pedagogia da UERJ, pesquisador das Contribuições das Estéticas Jovens e codiretor do documentário “Luz, Câmera, Pichação” ou “LCP” – juntamente com Marcelo Guerra e Bruno Caetano),  “o incompreensível de hoje é o cânone de amanhã”, “surpreendentemente, ao contrário do que parece, a pichação serve ao resgate da saúde coletiva da cidade.”  “A pichação é um fenômeno social que não se dá pela falta de respeito ao outro, mas como uma forma de atrair o olhar do outro”. E mais: “o Brasil é o único país do mundo em que existe a distinção entre grafite e pichação.”

Algumas terminologias do grafitismo: “writer” é o grafiteiro, o cara que pinta, escreve; “crew”, uma turma de grafiteiros reunida que trabalha ao mesmo tempo; “tag”, a assinatura do artista; “bite”, imitação do estilo de outro; “spot”, o lugar onde se exerce a arte do grafite, e “toy”, o grafiteiro iniciante.

Neste vídeo não fiz distinção entre grafite e pichação — foi tudo devidamente registrado, sem discriminações, entre 2012 e o início de 2014, em bairros da zona sul do Rio de Janeiro.

Na trilha sonora, “E.C.T.”, de Nando Reis, Carlinhos Brown e Marisa Monte, na interpretação de Luís Brasil, arranjo e violão; Ney Conceição, baixo; Kiko Freitas, bateria; João Hermeto, percussão e Chico Chagas, acordeão e guitarra de brinquedo.

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