Na temporada de chuvas, Brasília parece menos Brasília. Os narizes deixam de sangrar, os caminhos arborizados ostentam o verde, os ipês brancos abrem seus tapetes e as amoreiras tingem as quadras de vermelho.
A visão de construções "com espaço calculado para nuvens", como definiu Clarice Lispector, e a atmosfera de ordem e utopias de Oscar Niemeyer e Lucio Costa se dissipam nas cidades-satélites. O mau gosto dos prédios de luxo de Águas Claras e o caos inventivo das construções populares de Taguatinga e Ceilândia insistem em chamar Brasília de volta às contradições do Brasil.
Em Ceilândia, o cineasta Adirley Queirós, de 51 anos, circula pelo centro planejado e observa seus lugares de afeto. Pouco depois, ele estaciona o carro e subimos ao seu apartamento, onde trabalha na montagem de seu próximo filme. Indo até a varanda, aponta os limites do Distrito Federal e os morros verdes de Goiás.
Queirós dirigiu "Branco Sai, Preto Fica", de 2014, um dos filmes mais vigorosos do