“Por que Machado de Assis é bom?” —o garoto perguntou. “Eu leio na escola. A professora diz que é da hora, eu sei que deve ser, mas não entendo onde tá, tipo, a graça. Eu acho mó chato.” Tentando responder à pergunta, num bate-papo com alunos numa escola estadual, cito autores, críticos, repito chavões, falo difícil e vejo pelos olhos do menino que a minha explicação tá tão chata e abstrusa quanto os livros que ele tenta compreender.
Já em casa, sob o oráculo tardio e infalível da Lorenzetti, cai sobre mim o que eu deveria ter dito uma hora antes. “Machado de Assis é um gênio porque descreveu, há 150 anos, todo mundo que você conhece. Seu tio. O taxista da esquina. O colega mais rico e o mais pobre da turma. É difícil para você reconhecê-los pois o seu tio, o taxista, o colega mais rico e mais pobre da turma estão lá no livro de fraque e cartola, locomovem-se em carruagens e cabriolés, falam com o sotaque do século 19. Basta traduzir aquele sécu