Paul Schrader não tem memórias de cinema da infância. Na restrita educação calvinista em que foi formado, a Dutch Reformed Church de Grand Rapids, no estado de Michigan, só as palavras eram ideias. As imagens da televisão e do cinema eram meio caminho andado para o inferno — a mãe espetou-lhe um dia uma agulha na mão, aquilo, essa dor “sempre”, isso era o inferno.
Nascido em 1946, Paul Schrader só viu o primeiro filme aos 17 anos, uma produção da Disney, The Absent Minded Professor (1961). Não percebeu para quê tanto barulho. Percebeu com Wild in the Country (1961) e com os seus sentimentos infernais pela actriz Tuesday Weld.
As memórias de infâncias são sobretudo de discussões teológicas na cozinha. É uma das razões, diria mais tarde o argumentista e realizador, pelas quais os seus filmes seriam acusados de “frieza” — não aprendeu a emocionar-se com o cinema. De facto, ficamos a pensar na forma como algumas personagens que criou descolaram da emoção e