Quando um negro morre de 'bala perdida', parte de uma mãe negra morre também – Opinião – CartaCapital
“Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar…” Chico Buarque
Ao longo dos últimos 12 meses, registrei neste espaço minha tristeza, minha indignação em relação à política genocida que extermina pretos, pobres e favelados neste país. Não é uma tarefa fácil. É difícil, doloroso, escrever sobre o desumano, sobre o absurdo, sobre a barbárie, sobre a morte da minha gente. O racismo rouba de nós, negros, até o direito de escrever amenidades.
Em maio do ano passado, enderecei uma carta ao garoto João Pedro, assassinado ao ter o lar invadido e alvejado por mais de 70 tiros. Conforme determina os protocolos de segurança da Organização Mundial de Saúde (OMS), João estava em sua casa, que fica em uma comunidade de São Gonçalo/RJ, quando foi surpreendido por uma operação policial que não lhe permitiu alcançar sequer a maioridade.
Um ano depois do crime, as investi
Como fazer