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VIOLONISTA THEREZA MARTINS, 80 ANOS! Por Fernando Moura Peixoto

“Ser negro no Brasil é uma batalha. O negro está sempre tendo que provar que é capaz. E tendo que provar duas vezes.”

(HAROLDO COSTA)

SINOPSE

O resgate da vida e obra de Thereza Martins, uma octogenária artista brasileira de grande valor que, injustamente, nunca teve acesso à mídia. Legar à posteridade tudo o que ela realizou em sua gloriosa existência – violonista e compositora! -, com o seu público, os amigos e, principalmente, no âmbito familiar.

 ENFIM, O RECONHECIMENTO

Carioca de Copacabana, nascida em 1935, Thereza da Conceição Gomes Martins, nome artístico, Thereza Martins, ou, simplesmente, Dona Thereza – como é respeitosamente tratada no meio musical -, entrou para o renomado Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, do Instituto Cultural Cravo Albin, ICCA:

“Instrumentista. Violonista. Irmã de criação da pianista Marina Moura Peixoto. Viúva do violonista, violonista tenor, tocador de banjo americano, cavaquinista e bandolinista Justo Gomes Martins Neto [1925 – 1993], o ‘Paulistinha’, um dos fundadores da formação inicial do conjunto paulista ‘Demônios da Garoa’, e que integrou também o conjunto ‘Anjos do Inferno’.”

“Embora fosse irmã de laureada pianista, acabou por dedicar-se ao violão. Foi discípula de Dilermando Reis, João Pereira, Othon Saleiro, Garoto e Luiz Bonfá. Participou de inúmeros programas de calouros em diferentes emissoras, sendo presença constante nos programas de calouros da Rádio Nacional, tendo, inclusive, recebido várias vezes a nota máxima no Programa de Ary Barroso. Fez apresentações no Clube Municipal, na Rádio Tupi, e nas TVs Tupi e Rio, sendo que, nesta última apresentou-se no Programa ‘Heloisa Helena’. Na década de 1950, tornou-se a primeira mulher a tocar guitarra no Brasil quando atuava no conjunto Blue Star. Em 2015, aos 79 anos, continuava compondo e tocando violão e apresentando-se semanalmente com diferentes grupos de choro na Praça São Salvador, e no Restaurante Baixo Gago, ambos no bairro carioca de Laranjeiras. Uma das poucas mulheres a tocar violão de sete cordas no Brasil.

www.dicionariompb.com.br/thereza-da-conceicao

Thereza da Conceição integra também o Museu da Pessoa: http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/violonista-thereza-martins-80-anos-106545

E ainda o blogspot “DE ÓPERAS E CONCERTOS”:

http://deoperaeconcertos.blogspot.com.br/2015/10/violonista-thereza-martins-80-anos.html

A FESTA DO 80º ANIVERSÁRIO

Thereza Martins completou 80 anos de idade no dia 23 de setembro de 2015, e, na noite de sábado, 26, seus familiares lhe proporcionaram uma grande homenagem, que teve a participação de amigos e colegas da turma do chorinho – gênero musical brasileiro urbano de harmonia e ritmos bem característicos -, a que ela se dedicou, com incursões também pelo erudito. Herdeiros do talento inconteste de Dona Thereza, os filhos Herbert e Tania, assim como a neta Helena – que cursa Medicina – ensejaram-lhe diversas “canjas”. Beatriz Maria, a outra neta – recém-formada em Relações Internacionais, na UFRJ -, assistiu e deu a maior força.

O evento aconteceu na Tijuca, no salão de festas do prédio onde reside sua filha Tania Gomes Martins, diplomada em Administração, e instrumentista e cantora com experiência na noite carioca. E se assemelhou a um registro de programa especial televisivo. Alguns moradores dos dois prédios vizinhos achegaram-se às varandas, luzes apagadas – espectadores privilegiados -, para melhor visualizar e ouvir o show. A comemoração durou seis horas, findando à meia-noite.

A GRAVAÇÃO DO CD PARTICULAR

Uma semana antes da recepção, Thereza Martins gravou, no Studio Primus, seu primeiro CD (particular), “Thereza Martins – 80 Anos”, sob a direção do filho Herbert Gomes Martins, sociólogo, engenheiro de produção e músico, e da nora Cleonice Puggian, professora e doutora em Educação.

Thereza pôde demonstrar toda a sua virtuosidade interpretando clássicos no violão de seis cordas: “Pedacinhos do Céu”, de Waldir Azevedo; “Ponciana”, de Ernesto Lecuona; “Antigamente”, de Garoto; “Preciso Aprender a Ser Só” e “Samba de Verão”, de Marcos Valle; “Adiós”, de Enric Madriguera; “Aquarela do Brasil” e “Brasil Moreno”, de Ary Barroso, e “Tango Jalousie”, de Jacob Gade, em arranjos seus. Além de composições próprias: “Ao Mestre Luiz Bonfá”, “Na Cadência do Choro”, “Um Tema para Radamés Gnatalli” e “Malagueña Estilizada”.

THEREZA JOVEM EM BOTAFOGO

Sobrinho de Thereza da Conceição, eu me lembro das festas infantis no início dos anos 1950, realizadas no apartamento 206 da Rua Álvares Borgerth, do prédio de nº 32 – que existe até hoje -, em Botafogo, onde ela morava com a minha avó Carmen Quartin Pinto de Moura, uma carioca descendente de portugueses e ingleses, e o meu avô, Eduardo José de Moura Filho, um mineiro de Mariana – seus pais adotivos. Vovô Eduardo, capitão farmacêutico do Exército, falecera em 1948, e dele não me recordo, infelizmente. A tia Thereza, já crescidinha, em torno dos dezesseis, dezessete anos, monopolizava as atenções dos adultos tocando o seu violão no quarto das crianças, impondo-nos silêncio forçado. E nós, que não podíamos então brincar, tornávamos seus ouvintes também. Hoje sou um orgulhoso fã.

“Onde há música, não pode haver coisa má.”

MIGUEL DE CERVANTES (1547 – 1616), Dom Quixote

Fernando Moura Peixoto (ABI 0952-C)

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