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POSTAGENS URBANAS CARIOCAS: A RUA É TUA! por Fernando Moura Peixoto

“BASTA! De eleger políticos para representarem a gente, que depois só representam os interesses deles.” (frase de adesivo plástico num vidro de automóvel em Botafogo, fotografado em julho de 2012)

 

Interagir com as postagens na urbe carioca — grafites, dizeres anônimos, cartazes e reivindicações populares. Seja ilustrando, modificando ou complementando seu sentido original, ou deles divergindo com humor. E também entremear as imagens com fotos de desassistidos socialmente que perambulam e dormitam nas ruas, em HEXAMISERABILIDADE. Falta-nos educação, saúde, alimentação, saneamento básico, pleno emprego e segurança.


O registro das fotografias ocorreu entre 2012 e 2014, somente no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Mas os reclamos por cidadania permeiam o país de modo crescente há muito tempo. São os “latidos do povo”, segundo Verissimo, que acaba de inventar o humorismo a favor – a favor do governo.


Para Gustave Le Bon (1841 — 1931), psicólogo social e sociólogo francês, “dominam-se mais facilmente os povos excitando-lhes as paixões do que cuidando de seus interesses”. E ainda: “A afirmação e a repetição são os agentes muito poderosos pelos quais são criadas e propagadas as opiniões. A educação é, em parte, baseada neles. Os políticos e os agitadores de toda a natureza disso fazem um uso quotidiano. Afirmar, depois repetir, representa mesmo o fundo principal dos seus discursos. A afirmação não precisa apoiar-se numa prova racional qualquer: deve, simplesmente, ser curta e enérgica, e cumpre que impressione”.


Philip Roth (1933), um dos maiores escritores norte-americanos da segunda metade do século 20, diz que “uma ditadura aprisiona seus opositores em campos de concentração, e uma democracia os prende a uma tela de televisão”.


Professor, sociólogo, advogado e historiador brasileiro, nascido em Atibaia, SP, Nélson Jahr Garcia (1947 — 2002) afirmou no artigo “Máscaras“, publicado em junho de 2002: “O Brasil também tem sua máscara. Lembra o ditado segundo o qual ‘quem tem uma perna mais curta, em compensação tem outra mais comprida’. Só se fala na mais longa e, geralmente, com inverdades. O Brasil tem um povo alegre, cordial e com muitos sentimentos. É o país do futebol, do automobilismo, do tênis; às vezes do vôlei e basquete. Tem o solo mais fértil do mundo (culpa da carta do Pero Vaz de Caminha). Agora virou um país democrático em que a população conquistou melhores padrões de vida. Quando e se o IBGE fizer pesquisas mais corretas, levaremos um susto. Talvez conheçamos a verdadeira face deste país”.


Futebol não dá prestígio político nem vitória em eleição
(ainda mais quando se perde uma semifinal da Copa por 7×1, em casa), já dizia o jornalista e comentarista esportivo João Saldanha (1917 — 1990), gaúcho de Alegrete e membro ativo do Partido Comunista Brasileiro. Treinador (por curto período) do Botafogo, clube de sua paixão, foi técnico na fase classificatória (1969) da Seleção Brasileira (“as feras do Saldanha“) que seria tricampeã em 1970. Por divergir da orientação do ditador militar da época (cinco deles, em 21 anos de um regime opressivo e autoritário, de 1964 a 1985), que insistia em imiscuir-se nos assuntos futebolísticos – dando palpites e indicando jogadores de sua preferência -, afastaram João Saldanha do comando da equipe e o substituíram por Zagallo. Vivíamos a era do “milagre econômico” e do ufanista “pra frente Brasil!”. Na verdade, “os anos de chumbo“, de triste memória.

“João Sem-Medo” – alcunha que recebera de Nelson Rodrigues (1912 — 1980) – citava como exemplo a Itália fascista. Benito Mussolini (1883 — 1945), cognominado “Il Duce” (“o guia”, “o líder”), ganhara duas copas do mundo (1934 e 1938), mas não escapou de ser submetido à execração pública. Depois de sumariamente executado em Giulino di Mezzegra pelos “partigiani”, foi dependurado de cabeça para baixo na Piazzale Loreto, em Milão, no dia 29 de abril de 1945, juntamente com a companheira final, Claretta Petacci (1912 — 1945), e outros comparsas — as imagens, impressionantes, estão disponíveis na internet, para quem tiver estômago.
Resta-nos sempre recomeçar e visualizar novos caminhos em outros horizontes. COMEÇAR DE NOVO – um marco na história da MPB -, composta em 1979 por Ivan Lins e Vítor Martins, é também o tema – bem apropriado – da trilha sonora, em arranjo jazzístico de Oskar Cartaya, no baixo, acompanhado de Rique Pantoja, teclados, e Kevin Ricard, percussão.

 

Fernando Moura Peixoto (ABI 0952-C)

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